Milton Dotta e João Felix Neto são os mais novos ‘Cidadãos Bauruenses’
Em Sessão Solene, realizada na noite da última sexta-feira (12/8), a Câmara de Bauru homenageou, por iniciativa da vereadora Estela Almagro (PT), dois novos cidadãos bauruenses.
Foram aprovados pelo Plenário da Casa de Leis por unanimidade, no dia 15 de março de 2021, dois Decretos Legislativos, de autoria da parlamentar Estela Almagro, a concessão dos Títulos de “Cidadão Bauruense” a Milton Dotta (Decreto Legislativo n.º 1949/2021) e a João Felix Neto (Decreto Legislativo n.º 1950/2021).
Presidida pelo vice-presidente da Câmara de Bauru, vereador Guilherme Berriel (MDB), e secretariada pelo servidor da Casa de Leis, Guilherme Mateus dos Santos. Além dos familiares e amigos dos homenageados, também prestigiaram a Sessão Solene a representante da presidência da OAB Bauru, Edna Aparecida Martins; o presidente do Conselho de Segurança Centro Sul, Adia Ayub Filho; o presidente do Rotary Clube Bauru Norte, Ricardo Moreti; o presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Bauru, Claudio Lago; o representante do Sindicato dos Eletricitários, Jesus Garcia, e a representante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, Maria Cristina Zanin.
A entrega das placas foi realizada pela vereadora Estela Almagro (PT).
Estela Almagro, emocionada, iniciou abordando acerca de ambos os homenageados serem referências políticas a ela. “Dois grandes companheiros, que hoje se tornam cidadãos bauruenses. Dois grandes companheiros que aqui não nasceram, mas fizeram aqui suas trajetórias de vida, constituíram suas famílias e construíram parte significativa da história política dessa cidade”, destacou.
A parlamentar pontuou ainda que a homenagem, além de ser um reconhecimento de Milton Dotta e de João Félix Neto, também é um agradecimento aos dois pela importância na sua trajetória política.
Estela tratou sobre a democracia que, segundo ela, no momento está ameaçada, e enfatizou que “mais importante que o processo eleitoral, é o fortalecimento da nossa democracia”. A parlamentar fez a leitura da “Carta aos brasileiros e às brasileiras em defesa do estado democrático de direito” de 2022. Em seguida, solicitou que o hino da internacional socialista fosse tocado em homenagem à trajetória de vida e política dos homenageados, do qual a vereadora também faz parte.
Milton Dotta agradeceu à vereadora e ao Parlamento Municipal pelo “honroso título que nos faz ser perenes na história da nossa cidade”. Agradeceu ainda aos seus pais e aos seus companheiros de partido e de vida. Milton Dotta retomou a importância de ambas as Cartas aos Brasileiros e Brasileiras de 1977 e a de 2022, que retratam o que foi a ditadura e como deve ser um estado democrático.
João Félix Neto agradeceu a autora da homenagem, Estela Almagro, e a todo o legislativo pelo título concedido. “É em dobro para mim receber esse título junto com um camarada como Milton Dotta, companheiro de velhas épocas”, destacou. João Félix Neto relembrou sua trajetória e sua relação com Bauru. Ainda tratou, assim como os demais, sobre a democracia e disse estar preocupado com o momento atual. Para o homenageado, o voto é o poder que todo brasileiro tem direito.
O vice-presidente da Câmara, Guilherme Berriel (MDB), parabenizou os homenageados pela trajetória de vida de cada um e pela fidelidade partidária que representam, o que considerou ser “raro” na atualidade.
História
Milton Dotta
Nascido em Avaí/SP, em 31 de outubro de 1940, Milton é filho do agricultor José Vitória Dotta e de Ana Pietroforte Dotta, que tiveram mais oito filhos: Antonio (já falecido), Jacira, Nair, Ermilda, Josephina, José Vitória, João Carlos e Emília. Desde sua infância e no início da adolescência viveu na zona rural de Avaí, onde demonstrava o seu interesse pela política partidária, sempre fazendo questão de acompanhar o seu saudoso pai em comícios e concentrações políticas.
Viveu a liberdade do campo até os seus 15 anos de idade, quando se mudou, no final de 1955, para Bauru, onde já residia seu irmão mais velho, Antonio (Tony), com a finalidade de cursar o ginásio. Prestou o exame de admissão no Liceu Noroeste da família Ranieri e, em 1956, prosseguiu com os estudos, concluindo o ginásio no ano de 1959.
Iniciou o curso de Técnico de Contabilidade no SENAC e o então Clássico no Instituto de Educação Ernesto Monti. Neste período foi eleito presidente da Federação Bauruense Estudantina – FBE, entidade que encerrou suas atividades com o Golpe Militar de 1° de abril de 1964.
Concluído o curso colegial, ingressou na Faculdade de Direito da Instituição Toledo de Ensino, onde passou a atuar na Juventude Universitária Católica – JUC. Estudava no período noturno e durante o dia trabalhava no INAMPS, na função de cobrador de seguros.
Enquanto acadêmico de Direito participou do Congresso da UNE – União Nacional de Estudantes, em outubro de 1968, na cidade paulista de Ibiúna, ocasião em que todos os estudantes foram presos, sendo que Dotta foi surpreendido com a decretação de sua prisão preventiva. Preso em 12 de outubro de 1968, foi libertado em 12 de dezembro do mesmo ano, véspera da decretação do AI-5.
Dotta trabalhou como agente de investimentos, representando por muito tempo a empresa Fenícia, em Bauru e região. Militante na política, filiado do então Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), acabou sendo candidato a vice-prefeito nas Eleições Municipais de 1976, em uma chapa encabeçada por Antonio Fortunato, que não logrou êxito na disputa.
Persistiu na luta, participando de diversas atividades em clubes de Futebol Amador, no Movimento contra a Carestia, na fundação da secção local do Comitê Brasileiro pela Anistia – CBA -, na distribuição do jornal Hora do Povo e como advogado, na defesa intransigente dos militantes movimentos sociais que rotineiramente eram convocados pelo DEOPS – Departamento Estadual de Ordem e Política Social – e pela Polícia Federal.
Em 1982, elegeu-se vereador pelo MDB, sendo da base de apoio do saudoso prefeito Edison Bastos Gasparini e de seu sucessor, Tuga Angerami, ocasião em que foi presidente do Centro de Defesa do Consumidor – CDC – que funcionava na Câmara Municipal.
No biênio 1987/1988, presidiu a Mesa Diretora do Poder Legislativo, sendo que em sua gestão foi elaborada a Lei Orgânica do Município (LOM) que dentre outras tantas medidas, implantou a Tribuna Livre nas sessões da Câmara Municipal.
Em 1988, foi reeleito vereador, desta vez pelo Partido Socialista Brasileiro – PSB, sendo que no ano seguinte, 1989, sofreu um grande golpe com a morte de sua esposa e companheira de lutas, Mary Nair Matheus Dotta com quem teve os filhos Milton Dotta Junior, Victor Antonio Dotta, André Luiz Dotta (falecido) e José Victoria Dotta Neto. Casou-se novamente com Liliane Martins Dotta com quem teve a filha Giovana Vitoria Martins Dotta.
Em 1990 foi candidato a Deputado Estadual pelo PDT e em 1992 disputou a reeleição para vereador, não obtendo êxito. Por mais uma vez, buscou retornar à Câmara Municipal, no ano de 1996, sendo que em no ano 2000 optou por apoiar o filho Dotta Junior que foi eleito.
“Milton Dotta efetivamente fez história na cidade de Bauru, na luta contínua e intransigente em defesa dos menos favorecidos e na busca da liberdade de expressão e da democracia”, conclui a autora da homenagem, Estela Almagro.
João Félix Neto
João Félix Neto, ou João de Duca, como ficou conhecido, nasceu em 28 de agosto de 1949, em Piancó/PB. Com a ausência do pai e o falecimento da mãe, em 1964, João Duca teve que cuidar da irmã, 7 anos mais nova.
Mesmo não terminando a quarta série, foi obrigado a buscar diversos trabalhos para o próprio sustento.
Sua rápida passagem pela polícia paraibana, menos de 3 anos, não deixou saudades, apesar disso, não se arrepende. Todo ensinamento é válido e segundo ele próprio, os erros são aprendizados para a vida e só devemos nos arrepender de não tentar quando tiver a chance.
Casou-se com Francisca Cordeiro, em 1969, com a qual teve três filhos, sendo que o último faleceu com 5 dias de vida.
Em 1975, tomou a decisão mais importante de sua vida, resolveu deixar a terra natal e vir para Bauru.
Foram momentos difíceis, de muitas privações e humilhações diversas. Por isso, entre tantas decisões importantes, na mesma época, adotou seu sobrinho de um ano, como filho legal.
Além de amante da poesia e da escrita nordestina, trouxe consigo aquilo que lhe fazia forte: honra e respeito. Não tardou em arranjar emprego como ajudante de pedreiro e cinco anos depois já era “construtor” conceituado. Abriu uma empresa de construção em sociedade com o amigo, José Domingos, pessoa muito boa, segundo as próprias palavras, séria e honesta. Amizade que durou até o seu falecimento. Vale destacar algumas pessoas pelas quais tinha muito prazer em conviver, como seus cunhados, Aldo e Júlio, seu sogro, João Cordeiro, e a própria esposa, todos já falecidos. Além de sua referência de luta, o companheiro Luiz Inácio, o Lula guerreiro.
O pseudo crescimento econômico no início de 1980, culminou com uma grande inflação e com a queda na área de produção industrial, em virtude do lucro especulativo das grandes corporações bancárias, fato este que fez retrair os investimentos na construção civil, e o levou a diminuir a equipe, e seguir fazendo apenas pequenos serviços.
Estabelecido na maior parte da vida na região do bairro da Nova Esperança e do Jardim Prudência, sonhava em ver pelo menos um filho formado, fato que não se concretizou, nem com os filhos, nem com os netos. Apesar da frustração, tem orgulho das pessoas que se tornaram.
Sempre interessado em questões políticas, acompanhava de perto o desenrolar das disputas. Apesar de não se envolver, questionava o papel do governo militar nas conversas com amigos. Militante do MDB, única frente reconhecida na época, tinha admiração pelo sindicalista Luiz Inácio e assistiu pessoalmente o primeiro comício do mesmo para Governador, que ocorreu na Praça da Paz, em 1982.
Posteriormente fez uma ficha de filiação no Partido dos Trabalhadores (PT) e, em 14 de fevereiro de 1992, estava efetivamente filiado ao maior partido de esquerda da América Latina.
Desde então, seu nome figura na história política do partido na cidade, exercendo por várias vezes cargos importantes de direção, seja como secretário, tesoureiro, ou como presidente. Também foi presidente da associação de moradores do Jardim Prudência e adjacências, atuando no Conselho das associações e organizando lutas populares.
Destacamos também o seu papel fundamental na eleição do primeiro vereador do PT na cidade, fato este celebrado até hoje, pois a maioria do partido, ligado a sindicatos, era discriminativa com os movimentos populares e não acreditava no potencial das lutas periféricas.
Autodidata nato, conquistou respeito e admiração de muitos letrados. Tinha pouco estudo, mas uma mente fértil de experiências vividas. Hoje, aos 72 anos, tem como hobby as pescarias com a atual esposa Iraci Santos, e os amigos Jaime e Maria Rutia.
É consultor político do mandato popular da vereadora Estela Almagro e vice-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) na cidade de Bauru.
“O brilho nos olhos, está longe de apagar”, completou a autora da homenagem, Estela Almagro.
Reprodução: Câmara Municipal de Bauru
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