Nesta quarta-feira (19/11), a Câmara Municipal de Bauru realizou Sessão Solene para a entrega do Prêmio “Zumbi dos Palmares” a três homenageados: Luiz Francisco Melo, Cíntia Mariza dos Santos e Tobias Ferreira Gomes Terceiro. Os nomes foram indicados pelo Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCNB).

Criada em 2013, a premiação reconhece cidadãos ou instituições locais que se dedicam à luta contra o racismo e pela inclusão da comunidade negra na vida socioeconômica e político-cultural da cidade.

Estiveram presentes na cerimônia o presidente da Casa, Markinho Souza (MDB) e a vereadora Estela Almagro (PT). Também compareceram o ex-vereador José de Carlos de Souza Pereira; a presidente do Conselho da Comunidade Negra, Camila Fernandes; representando a Coordenadoria de Políticas Públicas para Igualdade Racial e Povos Indígenas da Prefeitura de Bauru, Tatiana Sa; representando a Secretaria de Cultura e o CMCNB, Alex Gimenez Sanchez; representando a Diretoria da OAB – Bauru e o CMCNB, Angélica Toledo Alcântara; representando a Tenda de Umbanda Cacique Sete Flechas, Claudeci Nascimento da Silva e Janaina Aparecida Marcelino Barbosa; representando Ogun de Ronda Tiriri Lonã, Gilsileine Menino Virgínio; representando o Movimento Coletivo Samba, Ivo de Paula Fernandes; representando a ACTABB e o Partido Frente Brasileira, Edina Silvia; representando o Sindicato do Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo, Geraldo Antônio; representando o Deputado Federal Vicentinho, Chico Maia; e representando o CMCNB, Silmara Cristina Vilela, Amarildo Gomes Pereira e Joelma Maria de Moura.

Entrega do Prêmio

A sessão solene foi conduzida pelo presidente Markinho Souza e teve início com a formação de um corredor de berimbau com membros dos grupos Centro Cultural Vera Cruz, Magia da Capoeira, Academia de Capoeira Filhos da Cultura Afro-brasileira e Casa da Capoeira, pelo qual os homenageados foram recebidos. Na sequência, houve a execução do Hino Nacional Brasileiro e do Hino à Negritude.

Já o Prêmio “Zumbi dos Palmares” foi entregue aos homenageados em mãos: a Luiz Francisco Melo pela presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra, Camila Fernandes; a Cíntia Mariza dos Santos por Tatiana Sá, da Coordenadoria de Políticas Públicas para Igualdade Racial e Povos Indígenas da Prefeitura; e a Tobias Ferreira Gomes Terceiro pela vereadora Estela Almagro.

Discursos

Logo após a entrega da homenagem, a presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra, Camila Fernandes, usou a tribuna para enaltecer o histórico da honraria em Bauru e abordar as celebrações que o Conselho tem realizado, em especial neste mês de novembro. Apenas há 45 dias à frente do colegiado após eleição recente, ela esclareceu que a meta da gestão 2025/2027 é “a união de todos pela comunidade preta de Bauru”, convidando assim os vereadores a participarem das atividades que o Conselho realiza não só próximo do Dia da Consciência Negra, mas ao longo do ano.

Representando o Poder Executivo, Tatiana Sá também fez uso da palavra. Ela se disse emocionada pela celebração, reforçando a sabedoria e a luta do povo negro. “Quero me reverenciar aos homenageados e dizer que vocês não parem, se uma pessoa entender que ela pode, já valeu a pena”, disse sobre a potência da luta pela causa negra.

Membro do Conselho Municipal da Comunidade Negra, Bernardo Paixão foi outro convidado a falar. Ele lembrou que o Prêmio “Zumbi dos Palmares” reconhece não só trajetórias e conquistas, mas o compromisso da cidade com a igualdade racial, com o combate ao racismo e com ações que valorizem a cultura e a contribuição do povo negro. A vice-presidente do mesmo Conselho, Cristina Oliveira, ainda leu um poema de sua autoria intitulado “Somos todas Dandara”.

Finalizando os discursos antes de passar a palavra para os homenageados, a vereadora Estela Almagro declarou ser muito bom “ver essa Câmara tão preta”, lembrando que, atualmente, ela ser a única mulher negra no meio de tantos homens só demonstra o quão longe se está da igualdade racial. Ela ainda reforçou a luta pela inclusão: “a maior reparação que podemos fazer é tornar a cara de todos os poderes muito mais preta do que ela é hoje, senão vamos sempre continuar do lado de fora”, defendeu, reforçando a importância que a Semana da Consciência Negra não seja só uma data comemorativa, mas também de reflexão.

Em seguida, os homenageados puderam se manifestar. Luiz Francisco Melo fez diversas reflexões em tribuna, que passaram pela miscigenação do povo brasileiro, a consciência humana, o racismo em suas diversas formas, religiosidade, importância de ter liberdade para poder se expressar e como o povo negro se livrou dos grilhões. Ele se disse honrado por receber o prêmio e, enaltecendo o nome de Zumbi, disse que o legado dessa personalidade histórica deve continuar, inclusive por meio das comunidades quilombolas. “Nós somos os guardiões das florestas”, declarou, relatando a realidade desses grupos e defendendo sua importância.

Emocionada, Cíntia Mariza dos Santos focou sua fala em diversos agradecimentos e em relatar os trabalhos promovidos pelo Terreiro De Umbanda Caboclo Sete Flechas, o qual comanda. Ela ressaltou que a umbanda é “caridade, paz e amor” e que o prêmio não é só dela, mas de todos que participam do local. “Sou uma mulher negra, guerreira, que já passou por muito preconceito pela cor e pela religião, mas não paro de lutar, não, para que todos meus filhos também continuem lutando pelo respeito e pela igualdade. Que nosso pai oxalá abençoe a todos que estão aqui presentes”, discursou.

Por fim, Tobias Ferreira Gomes Terceiro se disse feliz pela homenagem, mas que não pode se esquecer de todos que vieram antes dele na mesma luta. Refletindo sobre legado, ele afirmou que seu trabalho não é uma escolha, mas uma missão. “Fico sempre pensando quando vou tomar uma atitude, sobre como eu quero passar algo bonito e verdadeiro para quem vem daqui em diante”, disse, declarando ainda planos que tem para melhorias nos círculos que atua, “sempre de cabeça erguida”.

Após o término dos discursos, a solenidade se encerrou com a apresentação de música afro-brasileira por diversos grupos que representaram a comunidade negra bauruense, palavras de Osvaldo Santos Souza, conhecido como “Fuminho”, nome histórico da comunidade negra bauruense, e com as músicas “Canto das Três Raças” e “Sorriso Negro”, que contagiou os presentes a participarem da cantoria.

Biografia dos homenageados

Luiz Francisco Melo é Presidente e Fundador da Associação Quilombola Espírito Santo da Fortaleza Porcinos, além de Coordenador Estadual da Coordenação Nacional de Quilombos (Conaq). Ele se destaca pela atuação nos municípios de Bauru, Agudos, Tibiriçá e Pederneiras. A Associação a qual fundou é considerada o único Quilombo do Centro-Oeste Paulista, visto como grande reduto quilombola e reconhecido pela Fundação Palmares.

Cíntia Mariza dos Santos (Mãe Cíntia de Ogum Xoroquê) está à frente do Terreiro De Umbanda Caboclo Sete Flechas há 35 anos. Fundado em 1991 por sua mãe, Dona Maria De Lourdes dos Santos (em memória), é um terreiro de mulheres que ultrapassa gerações, estando hoje na quarta geração e dando continuidade à herança que sua mãe deixou. Por sua vez, a Sagrada Umbanda é uma casa de Axé onde Cíntia e outras mulheres (sua irmã Alessandra e sua filha Tais) e demais membros ajudam o próximo com auxílio espiritual, fazendo campanhas para levar alimento para moradores de rua e nas comunidades de Bauru, montando cestas básicas para ajudar quem precisa e alegrando crianças com brinquedos e doces na tradicional festa de 12 de outubro. Atualmente, 25 Filhos de Fé colaboram nos ensinamentos da religião. Segundo a homenageada, a luta é diária pelo respeito à religião de Matriz Africana e Cintia ressalta que já sofreu e sofre muito com a intolerância religiosa e com o racismo. Ainda assim não desiste, defendendo seus direitos como cidadã e mulher preta ,junto aos Filhos de Fé que a ajudam na caminhada de amor e gratidão.

Tobias Ferreira Gomes Terceiro é graduado em história, pós-graduado em antropologia, arqueologia, licenciamento ambiental e gestão pública; proprietário e fundador do Centro Cultural; presidente do Grêmio Recreativo Carnavalesco Estação Primeiro de Agosto; professor, coreógrafo e dançarino com DRT, especializado em dança, em dança de salão e danças populares brasileiras; também é diretor de artes e roteirista de diversas obras audiovisuais. Sua trajetória sempre foi voltada à Comunidade Negra nas mais diversas atividades históricas e artísticas.