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Coordenador do Projeto Sacre, Ricardo Hirata apresenta panorama de ações que Bauru pode adotar para evitar crises hídricas

Na tarde de terça-feira (09/12), a Câmara Municipal realizou uma Audiência Pública para debater ações que podem ajudar a trazer segurança hídrica para Bauru. O encontro, promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Higiene, Saúde e Previdência da Casa de Leis, abriu espaço para a apresentação de dados do Projeto Sacre.

O Projeto Sacre (Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes) é uma extensa pesquisa coordenada por Ricardo Hirata, professor titular do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), com foco no estudo das porções altas das bacias dos rios Batalha e Bauru. Entre as metas dele está identificar formas de reduzir a vulnerabilidade do município de Bauru às crises hídricas.

Presidente da Comissão de Meio Ambiente, Junior Rodrigues (PSD) conduziu a audiência, que começou com uma apresentação do trabalho realizado pelos pesquisadores vinculados ao projeto.

Professor Hirata explicou que já foi levantada a maior parte dos dados para subsidiar a implementação de políticas públicas que ajudem Bauru, Agudos e Piratininga, municípios cortados pelas duas bacias, a frear as crises hídricas. Crises que tendem a se intensificar com as mudanças climáticas.

Nesse sentido, o professor expôs os motivos que levaram Bauru a ser escolhido como alvo da investigação: além dos constantes problemas enfrentados pela cidade durante a seca, ela emprega tanto águas superficiais como águas subterrâneas no abastecimento da população. “Essa dualidade nos chamou a atenção”, destacou Hirata.

Problemas detectados

Em relação às águas superficiais, Hirata apontou que a Bacia do Rio Batalha é considerada pequena e vulnerável à seca, pois a capacidade de reservação dela é afetada pelo assoreamento. Fenômeno agravado pela supressão de matas ciliares.

A competição pela água entre lavouras, condomínios e o abastecimento urbano também é um problema. Uma das metas do projeto é justamente dimensionar o quanto cada um desses elementos consome ao longo da bacia. Afinal, o modelo numérico aplicado demonstra que não há água disponível para todas as atividades na estação seca.

O projeto também endossa que Bauru possui muitos rios e córregos contaminados, além de sérios problemas de eficiência no sistema de tratamento e distribuição de água, cujo desperdício chega aos 45% no trajeto até as residenciais bauruenses.

Já em relação às águas subterrâneas, Hirata destacou que o Aquífero Bauru também está contaminado por nitrato e outras substâncias emergentes. Situação que inviabiliza a perfuração de poços de até 30 metros de profundidade.

Cenário diferente daquele detectado no caso do Aquífero Guarani. Por ser mais profundo, ele tem uma barreira natural à contaminação. Porém, a recarga (recomposição do volume de água) é mais lenta.

O investimento necessário para a perfuração de poços para alcançá-lo também tende a aumentar com o passar do tempo, pois, em longo prazo, o processo de recarga será afetado pelas mudanças climáticas, demandando bombas mais potentes e, consequentemente, mais gastos com energia elétrica.

O coordenador do Sacre chegou a citar que, hoje, o funcionamento de um poço abastecido pelo Aquífero Guarani chega a R$ 120 mil mensais. Ao mesmo tempo, Bauru tem uma anomalia geológica que o torna mais estreito em alguns pontos e inviabiliza a perfuração de novos poços especialmente na região central da cidade.

Na verdade, o argumento principal de Hirata é que a cidade precisa se preocupar em preservar o Aquífero Guarani. Trata-se de uma estratégia fundamental para trazer segurança hídrica às gerações futuras.

Soluções apresentadas

Diante dos problemas expostos, o coordenador do Projeto Sacre indicou que a cidade precisa adotar ações em seis frentes para alcançar a segurança hídrica: aumentar a produção de água, melhorar a reservação, tratar a água contaminada, controlar a demanda por água, melhorar a rede de tratamento e distribuição, bem como adotar medidas de gestão e governança.

Para aumentar a produção de água, segundo os estudos, é preciso otimizar o uso de recursos hídricos por diferentes atores, restituir a mata ciliar e controlar a erosão de terrenos e entender como administrar a exploração do Aquífero Guarani. Hirata mencionou que a construção do Complexo de Poços Val de Palmas é uma boa estratégia.

Falando especificamente sobre a recarga dos aquíferos, o especialista citou que Bauru precisa seguir o caminho das cidades esponjas, com a adoção de técnicas que aumentam a infiltração da água no solo.

Em relação à contaminação do Aquífero Bauru, Hirata expôs que o Projeto Sacre tem como uma de suas metas detectar como ele vem sendo contaminado. Ainda assim, o município já poderia pensar em dar uma destinação a essa água, como a irrigação de áreas verdes (sem árvores frutíferas). As plantas conseguem absorver, degradar e ou estabilizar os contaminantes presentes na água.

PPP para captação de água no Rio Tietê

Durante a reunião, o vereador Junior Rodrigues (PSD) aproveitou para buscar informações sobre a Parceria Público-Privada (PPP) anunciada pela prefeita Suéllen Rosim para captar água no Rio Tietê com a construção de uma adutora de 48 km. Proposta que seria executada no âmbito do Programa Universaliza SP.

O presidente do DAE (Departamento de Água e Esgoto), João Carlos Viegas da Silva, argumentou que Bauru precisa dar atenção às propostas para captação de águas superficiais. “Não podemos ficar reféns de um sistema, é preciso alternativas”.

Já a secretária municipal de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal, Cilene Chabuh Bordezan, disse que ainda é preciso entender “valores, tempos e movimentos” envolvidos na efetivação da obra. “Não é um projeto rápido e barato”, afirmou Bordezan, para reforçar, na sequência, que essa é uma medida de médio e longo prazo.

O coordenador do Projeto Sacre destacou o alto custo da obra e afirmou que Bauru poderia optar pela construção de outro complexo de poços. Alternativa mais barata que o estudo demonstra ser possível, contando inclusive com o mapeamento de áreas para a instalação dele.

Encaminhamento

Antes de encerrar a audiência, Junior Rodrigues (PSD) informou que as informações e dados obtidos durante a série de reuniões convocadas para debater o abastecimento de água em Bauru vão dar forma a um relatório.

O documento será apresentado às autoridades que atuam na conservação das bacias que cortam o município.

Quem esteve na reunião

A reunião foi conduzida pelo vereador Junior Rodrigues (PSD). Além dele, esteve no Plenário “Benedito Moreira Pinto” o parlamentar Márcio Teixeira (PL).

Convocados para a audiência, o presidente do DAE (Departamento de Água e Esgoto), João Carlos Viegas da Silva; e a secretária municipal de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal, Cilene Chabuh Bordezan, também compareceram.

Completaram a lista de presença técnicos do DAE e representantes do Fórum Pró-Batalha e do Projeto Sacre.

Composição do colegiado

A Comissão de Meio Ambiente, Higiene, Saúde e Previdência da Casa de Leis é presidida pelo vereador Junior Rodrigues (PSD) e tem como membros os parlamentares Sandro Bussola (MDB) e Junior Lokadora (Podemos).

Reprodução: Câmara Municipal de Bauru

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