Câmara Municipal entrega Troféu Zumbi dos Palmares

A importância da resistência e da quebra de paradigmas herdados da escravidão do povo negro marcou a Sessão Solene, realizada na noite desta sexta-feira (27/04), no Plenário da Câmara Municipal de Bauru, para a entrega do Troféu “Zumbi dos Palmares”.

A honraria foi entregue a Sara de Jesus Araújo, Maria Cristina Oliveira da Silva e Nelson Justino, indicados à Mesa Diretora do Poder Legislativo, no ano passado, pelo Conselho Municipal da Comunidade Negra, presidido por Fátima Cosmo Celestino.

Criado em 2013, o Prêmio Zumbi dos Palmares reconhece, anualmente, cidadãos ou instituições que se dedicam à luta contra o racismo e outras intolerâncias.

A sessão foi conduzida pelo segundo secretário da Casa, vereador Roger Barude (PPS), e prestigiada pela chefe de Gabinete do prefeito Clodoaldo Gazzetta e ex-vereadora Majô Jandreice, pelo ex-vereador Lima Júnior, que representou o deputado estadual Pedro Tobias; e também por representantes da Polícia Militar e da OAB-Bauru.

Na Tribuna, a vereadora Yasmim Nascimento (PSC) saudou os homenageados e os demais presentes, em nome da Câmara.

Ressaltando que o combate ao racismo e ao preconceito social é dever de todos, a parlamentar pontuou as dificuldades enfrentadas por negros e negras.

“Não nos aceitam de imediato em posições de destaques. Precisamos provar, a cada dia, que somos competentes e merecedores por termos chegado lá. Somos metade da população brasileira, mas essa representatividade não se traduz, por exemplo, na política. Quantos de nós estamos no Congresso Nacional? Não é que as coisas sejam fáceis para as outras pessoas. O problema é que para nós, negros e negras, tudo é muito mais difícil”, assegurou.

Educadora, Maria Cristina Oliveira, uma das homenageadas pelo Prêmio Zumbi, falou sobre a importância da Lei Federal de 2003 que torna obrigatório, na formação básica, o ensino da história e da cultura afro-brasileiras – embora a exigência ainda enfrente resistências na prática: “É preciso dizer que não existiu um povo escravo, mas sim um povo que foi escravizado e ergueu esse País”.

Também contemplada pela honraria, Sara pontuou que Zumbi e Dandara – duas lideranças do Quilombo dos Palmares – simbolizam a resistência do povo negro.

Graduada em Direito e estudante do curso de Ciências Sociais, falou sobre seu compromisso em dar voz e visibilidade a mulheres negras, refutou a tese da “democracia racial”, citou a marginalização pós-abolição e condenou a perpetuação de cicatrizes decorrentes da escravidão, instituída no Brasil como política pública até o final do século XIX.

Sara falou sobre o genocídio de jovens negros no País: a cada 23 minutos, um é assassinado; criticando ainda naturalização de fatos como o de 70% da população carcerária ser formada por negros. Na contramão, negros são apenas 3% dos membros do Poder Judiciário.

A homenageada disse ainda que mulheres negras são “animalizadas” ao receberem salários irrisórios na execução de trabalhos braçais, problematizando ainda a hipersexualização da mulher negra.

Assista à íntegra da Sessão Solene